Mesmo que as áreas da safra 19/20, em sua grande maioria, estivessem prontas para o plantio, as condições climáticas desfavoráveis no Rio Grande do Sul não permitiram que a semeadura ocorresse como deveria. E o que isso pode representar quando pensamos em doenças em arroz irrigado?
Sabemos que as doenças em arroz irrigado são consideradas um dos fatores mais limitantes para expressar o máximo potencial produtivo das atuais cultivares.
A incidência de doenças e seus elevados níveis de prejuízos podem variar a cada ano. Por isso, é sempre prudente analisar os fatores que podem favorecer a incidência dessas enfermidades, tais como clima, tolerância das cultivares utilizadas, manejo da lavoura, época de semeadura, entre outros.
A ocorrência e a severidade das doenças tendem a ser maiores conforme a época de semeadura. Ou seja, existe maior probabilidade de perdas de potencial produtivo pela incidência de doenças nas semeaduras realizadas fora do período ideal – que, no RS, é até a metade do mês de novembro.
A principal doença do arroz irrigado é a Brusone, doença que ocasiona manchas necróticas – de bordas marrons e centro cinza – nas folhas (imagem 1), podendo provocar sua queda e morte. Ao reduzir a área foliar, a doença também reduz o potencial produtivo da lavoura.
Além das folhas, a Brusone pode incidir sobre a base da panícula. Nesse caso, a enfermidade é conhecida como “Brusone de Pescoço” e impede o acúmulo de carboidratos nos grãos, reduzindo, assim, o peso e o percentual de grãos formados.
A Brusone é uma doença devastadora e pode causar perdas de até 100% do potencial produtivo da cultura (SOSBAI, 2018).
É importante observar, ainda, outras doenças nas lavouras, como é o caso de Mancha Parda, Escaldadura, Cárie, Falso Carvão, Podridões de Colmo, Doenças de Final de Ciclo, entre outras.
⦁ Monitoramento constante, a fim de identificar rapidamente o surgimento dos primeiros focos de doenças na lavoura.
⦁ Realização do manejo integrado da cultura, aliando boas práticas de manejo a materiais de tolerância genética.
⦁ Execução do controle químico preventivo.
E, pensando em controle químico preventivo, devemos estar atentos a dois momentos críticos para aplicação:
⦁ APLICAÇÃO 1 – Estágio R2 ou emborrachamento (imagem 2): aplicações em R2 contribuem para a redução da fonte de inóculo de patógenos e conferem proteção durante a emissão da panícula.
⦁ APLICAÇÃO 2 – Estágio R4 ou pleno florescimento (imagem 3): aplicando os fungicidas corretos nesse momento, podemos manter as plantas protegidas até o final do ciclo da cultura.
⦁ O intervalo máximo para a segunda aplicação é de 14 dias após a aplicação anterior. Em condições de forte pressão de Brusone, reduza o intervalo, avaliando a necessidade de aplicação complementar.
Quando as cultivares plantadas forem muito suscetíveis às doenças, será necessário realizar uma aplicação extra, que deve acontecer antes do R2 – aplicação foliar. Nesse caso, quando houver incidência de Brusone nas folhas, considere usar fungicidas recomendados e, para outras manchas, avalie a incidência, a fim de tomar a decisão para aplicação (fase vegetativa até o início da fase reprodutiva – estágio R0 a R1).
⦁ Lembre: algumas situações podem exigir a proteção no estágio vegetativo, por isso, esteja atento ao monitoramento da lavoura.
⦁ Importante: sempre use os fungicidas recomendados, nas doses corretas, respeitando sempre o período de carência de cada produto – vide informações disponíveis na bula dos produtos.
Para demonstrar a importância do manejo de doenças considerando os dois momentos críticos para aplicação preventiva, foram conduzidos experimentos com aplicações de diferentes fungicidas em 8 locais no Rio Grande do Sul, sendo 4 em Agudo, 2 em Santa Maria e 2 em Camaquã. As avaliações consistiram em produtividade e análise da qualidade de grãos.
Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que a aplicação de fungicidas de forma preventiva protege o potencial produtivo da cultura do arroz, resultando em maior produtividade de grãos e renda (gráfico 1).
Nesses experimentos, pudemos notar que tivemos êxito na proteção do potencial produtivo e ganhos em relação à qualidade de grãos, o que resulta em maior preço pago por saco de 50 kg.
Quando analisamos o melhor tratamento (triciclazol e picoxistrobina + ciproconazole) em relação à testemunha, podemos notar que houve a proteção do potencial produtivo da lavoura, em que a testemunha produziu 1.440 kg/ha a menos que o tratamento com duas aplicações de triciclazol e picoxistrobina + ciproconazole. Analisando esse cenário com o preço do produto, a diferença bruta foi de R$ 1.549,00.
Ao posicionar os produtos comercializados pela Corteva, consideramos dois cenários: cultivares suscetíveis e cultivares resistentes à Brusone.
Para finalizar, gostaríamos de ressaltar que, quando associamos as melhores práticas de cultivo aos melhores materiais genéticos e realizamos a proteção das lavouras com o uso de fungicidas, colhemos a manutenção e proteção do potencial produtivo que foi construído durante a safra.
Todas essas práticas resultam em incrementos na qualidade do arroz que chega às indústrias e, consequentemente, em qualidade e segurança para o consumidor.
Referências:
COUNCE, P.A.; KEISLING, T.C.; MITCHELL, A.J. A uniform, objective, and adaptative system for expressing rice development. Crop Science, Madison, 40:436-443. 2000.
IRGA, 2019. Instituto Rio Grandense do Arroz. Evolução da semeadura safra 2019-20. Disponível em: https://irga-admin.rs.gov.br/upload/arquivos/201911/07145316-evolucao-da-semeadura-19-20-municipios.pdf Acesso em 14 de novembro de 2019.
SOSBAI. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o sul do Brasil. Reunião da Cultura do Arroz Irrigado, 28. Farroupilha, 2018. 205 p.