Jovens são capacitados para assumir a gestão de propriedades rurais
Processo de sucessão familiar é fundamental para a longevidade dos negócios e para manter o legado e o patrimônio nas mãos das próximas gerações
Processo de sucessão familiar é fundamental para a longevidade dos negócios e para manter o legado e o patrimônio nas mãos das próximas gerações
Quem atua no agronegócio enfrenta desafios diários. Além de superar os percalços para alcançar o sucesso na lavoura, os produtores precisam traçar estratégias para um momento fundamental – a sucessão familiar. Segundo o último Censo Agropecuário divulgado pelo IBGE em 2017, quase 80% dos negócios agrícolas do Brasil são familiares e a agricultura familiar é responsável por 67% dos empregos na agropecuária. Importante para o contexto econômico nacional, o agronegócio familiar ainda engatinha na questão de transferir seu legado para as próximas gerações. Dados do estudo “Governança e gestão do patrimônio das famílias do agronegócio”, realizado pela Fundação Dom Cabral e pela JValério, o percentual de empresas do campo lideradas por seus fundadores ultrapassa 80% e somente cerca de 41% têm membros da segunda geração envolvidos com a administração, apenas 16% contam com a terceira geração e menos de 1% vão além da quarta geração.
De olho nesse contexto e sabendo da importância de repassar a experiência e o conhecimento para as próximas gerações que irão assumir a gestão, a operação e todas as responsabilidades das propriedades familiares, a Cooperja promove o Programa Cooperja do Amanhã Jovens.
Pioneiro na região catarinense, o programa tem a duração de um ano, é destinado a adolescentes entre 15 e 18 anos e tem como objetivo expandir as possibilidades dos jovens no campo. A grade curricular conta com disciplinas como cooperativismo, habilidades gerenciais, negócios, tecnologia e sucessão familiar. A capacitação apresenta uma nova visão sobre a forma de gerir os negócios familiares, pautada no cooperativismo, no empreendedorismo, na inteligência de negócios e na tecnologia.
Vanir Zanatta, presidente da Cooperja, ressalta que a ideia é dizer aos jovens que no futuro próximo eles serão os gestores das propriedades, da cooperativa e até da sociedade, e terão que assumir as ações e o trabalho. “Nós repassamos diversas informações, desde como se relacionar com a sociedade até a postura na hora de fazer uma compra, adquirir uma máquina ou solicitar um financiamento no banco. Queremos dar subsídios para que eles tenham condições de tomarem decisões assertivas, saibam se posicionar diante de uma negociação, trabalhar com outras pessoas, serem líderes e entenderem que não há opção melhor do que o agronegócio”, destaca.
Para Vanir, a agricultura é uma atividade que nunca morreu e nunca vai morrer, e os jovens devem suceder seus pais e avós, mas trabalhando com a gestão, apoiados nas vantagens da tecnologia e da internet. “Atualmente, existem várias opções para gerir uma propriedade, e a agricultura se tornou muito boa e rentável para quem quer trabalhar com a cabeça e não só com corpo, pois quem faz o serviço pesado são as máquinas. A cooperativa está ajudando eles a se desenvolverem melhor, pularem etapas e estarem preparados para enfrentar o que vem pela frente. Porque vêm outros desafios, como a pandemia e a guerra”, explica.
No programa, que está na formação da segunda turma, os jovens aprendem toda a parte de gestão, finanças, aspectos sociais, voluntariado e questões ambientais. Para participar, é necessário ser filho de sócios da cooperativa ou de agricultores da região. “Queremos resgatar aqueles que saíram da propriedade, para que sejam sucessores e façam um trabalho melhor do que os seus pais fizeram. Que pensem diferente, leiam mais, não fiquem limitados ao mundo em que nasceram”, afirma. Vanir observa que o jovem tem que ser conquistado, ver que o agronegócio é bom, rentável e que no futuro a gestão vai ser o mais importante. As novas gerações têm capacidade para produzir mais, melhor e com preservação ambiental.
Os resultados do Programa Cooperja do Amanhã Jovens já podem ser comprovados nas propriedades. Os jovens da primeira turma, formada por 25 alunos, colocaram várias mudanças em prática, utilizam aplicativos para auxiliar na gestão e passam a defender o cooperativismo. Além de melhorar a atividade que existia na propriedade, eles também têm exercitado a visão de trabalhar de forma circular, com rotação de culturas e outras estratégias. “Nosso grande trunfo é deixar nosso legado para as próximas gerações e eles têm que estar cada vez mais preparados”, acrescenta.
Além da capacitação, outros fatores também são importantes no processo de sucessão familiar. O jovem tem que enxergar que o agronegócio é rentável e, segundo Vanir, os pais precisam dar a oportunidade para que ele tenha sua renda e independência. “O pai pode dar um hectare para o filho, um percentual do que for colhido, cada propriedade tem que achar a sua maneira de dar condições financeiras ao jovem. A comunicação familiar também é essencial, pois a família é a primeira forma de aprender a viver em sociedade. E uma das coisas mais importantes é os pais aceitarem as ideias e as novidades trazidas por seus filhos. É um trabalho em conjunto”, finaliza.