O ano está começando, e para entender melhor o cenário atual do mercado de arroz e o que está por vir, conversamos com o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.
No início da conversa, perguntamos sobre a expectativa para a safra brasileira de arroz 2021/2022 que, de acordo com Velho, é boa. Porém, ele comentou que a quantidade deve ser menor em relação à safra anterior, quando foi alcançado um número muito expressivo.
“Em 2020/2021, a produtividade foi de 9 mil quilos por hectare, em média, no Rio Grande do Sul. Ainda é um pouco cedo para falar a respeito de resultados, pois isso se define melhor no período reprodutivo da planta do arroz, que é durante os meses de janeiro e fevereiro”, disse.
Perspectivas de negócios
Além disso, para Velho, as perspectivas de negócios dentro da cultura do arroz, considerando a safra atual, é preocupante porque existe um aumento significativo do custo de produção.
“A próxima lavoura, 2021/2022, terá um impacto em relação aos custos. Mas isso leva o produtor a ter uma gestão cada vez maior dos seus negócios. Ou seja, ele deve ter o seu próprio custo de produção, aumentar a rotação de culturas e aderir também à pecuária junto ao cultivo do arroz”.
Velho explicou que a pecuária é muito importante no sistema produtivo devido à cobertura vegetal usada na lavoura. “Utilizamos aveia, azevém e trevo-persa, pastagens que aumentam a fertilidade do solo e, consequentemente, a produtividade do arroz”.
Safra anterior
Já ao avaliar o saldo positivo da safra anterior (2020/2021), o presidente da Federarroz afirmou que o início da pandemia mudou totalmente o mercado do arroz brasileiro, pois refletiu diretamente em fatores internacionais, como o aumento do preço do arroz no mundo. “Isso aconteceu devido a uma mudança de atitude de grandes produtores: China, Índia e Tailândia. Esses países acabaram diminuindo suas exportações por causa da segurança alimentar, o que provocou um aquecimento no preço do mercado internacional.”
Tratando-se do mercado interno, segundo Velho, houve uma modificação no comportamento do consumidor brasileiro. “Com a pandemia, as pessoas ficaram mais tempo em casa e aumentaram o consumo dos produtos da cesta básica, entre eles, o arroz”, explicou. Ele também citou o câmbio alto, acima de R$ 5, que trouxe uma paridade do mercado nacional acerca do Mercosul.
“O Mercosul que tem tradição em colocar arroz no Brasil, principalmente o Paraguai, precisou buscar outros destinos para o grão pois encontrou uma dificuldade em acessar o mercado brasileiro”, afirmou. Ainda ao analisar a safra passada, Velho disse que a exportação do grão em 2020 atingiu níveis altos graças à demanda mundial impulsionada pela segurança alimentar.
Abastecimento do mercado interno
O Brasil, de acordo com Velho, é praticamente autossuficiente na produção de arroz. Entretanto, com o crescimento da exportação, o país tem registrado uma necessidade de importação.
“Isso gera um regramento dos preços do nosso mercado interno e diminui a oferta excedente de produtos, que é o que muitas vezes ocorre quando nós temos safras maiores ou, então, diminuímos a exportação. Contudo, é algo normal, e nós temos tranquilidade de abastecimento dentro do país”.
Segurança alimentar
O presidente da Federarroz afirmou que o segmento do grão é o protagonista da produção brasileira, representando 70% da produção nacional. “Isso nos traz uma responsabilidade em fornecer um produto de altíssima qualidade”, ponderou.
O arroz brasileiro, de acordo com Velho, é reconhecido em muitos países pela qualidade e sanidade. Ele ainda disse que: “O arroz produzido no país é atestado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Temos orgulho em produzir um arroz que é referência mundial”, afirmou.
Inovação, empreendedorismo e sustentabilidade
Inovação, empreendedorismo e sustentabilidade são temas fundamentais para a cultura do arroz e fazem parte de toda a cadeia produtiva, segundo Velho. “É através da inovação que nós buscamos alternativas como a rotação de culturas, por exemplo. Procuramos tecnologias para ter uma eficiência maior no processo produtivo e isso deve estar associado à área ambiental”.
O Brasil é, segundo ele, modelo na área de sustentabilidade, pois usa apenas produtos autorizados para a cultura. O presidente da Federarroz ainda destacou a responsabilidade dos produtores brasileiros em produzir em um ambiente sustentável.
Novos mercados e a importância da expor
O representante do setor também falou sobre a expectativa da abertura de novos mercados que, para ele, é um assunto fundamental dentro da cadeia do arroz. O México foi o grande exemplo dado por Velho. “O México importa de 800 mil a 1 milhão de toneladas de arroz por ano, sendo os EUA a principal fonte até mesmo por uma questão logística. Porém, quando nós tivermos preços competitivos, voltaremos a exportar para o México. Temos a qualidade do nosso arroz como diferencial, que é muito superior ao arroz americano, nosso concorrente direto. Eles plantam variedades híbridas, e elas não têm a mesma qualidade do nosso grão”.
O futuro do mercado brasileiro de arroz, ainda de acordo com Velho, é a exportação e, por essa razão, deve-se conscientizar todos os produtores a exportarem de 10% a 20% da safra, criando, assim, uma referência para o mercado interno e tirando a pressão de ofertas.
“Dessa maneira, a exportação para países da América Central, como Costa Rica, Venezuela, Peru e Nicarágua, e para o México traz uma expectativa de preços melhores no mercado interno. O produtor precisa ter consciência da importância dessa cota de investimento para a exportação”, explicou.
Esperamos que essa entrevista tenha ajudado você a entender melhor quais as expectativas para a próxima safra e para o segmento em 2022. Até o próximo conteúdo!