“Em economia, é fácil explicar o passado.
Mais fácil ainda é predizer o futuro.
Difícil é entender o presente.”
Joelmir J. Betting
A safra 2021/22 no Centro-Sul brasileiro é daquelas que ficarão na cabeça dos participantes do agro canavieiro, pela complexibilidade e pela revoada de cisnes negros[1]. A extensão da seca durante a safra 2020/21 e o pobre verão em chuvas de 2021 não foram suficientes impactos: haveria de ter geada(s) entre final de julho e início de agosto/21, pegando várias regiões de forma intensa e outras nem tanto.
Esse novo impacto climático negativo é baixista para a produtividade, mas altista para os preços, principalmente do açúcar. As equipes das usinas analisam seus canaviais para sugestão de medidas: o planejamento da colheita, todo revisto! E olhos para a safra 2022/23! Ao mesmo tempo os Fundos e Tradings tentam entender melhor o que acontece e o açúcar já arrebenta o teto dos US$ 20 c/lb.
Enquanto isso o petróleo segue em volta de US$ 70/barril, com muitos importantes atores econômicos projetando valores acima disso! A OPEP+ e os EUA reequilibram o jogo com oferta para a demanda aquecida. O fato é que os preços do etanol estão em nível alto e os Fundos olham tudo provavelmente na visão macro das tendências das commodities: preços altos em 2022 e 2023 e, talvez, mais que isso.
As variáveis globais (efeito da geopolítica) e de macroeconomia indicam forte recuperação pós pandemia em todos os países, empurrando a oferta que correrá atrás da demanda!
Nesse momento vale citar Sir John Templeton, ou “as quatro palavras mais perigosas da língua inglesa são: Desta vez será diferente.” Isso se refere à irracionalidade do mercado, amplificada na revoada de cisnes negros.
Quais seriam pontos a refletir, nesse momento de pressão sobre uma oferta brasileira menor?
a) Preços mais estáveis na safra/entressafra, mas em patamar mais elevado;
b) OPEP+ (com a Rússia) estabelecendo preços convidativos ao etanol;
c) Crescimento econômico efetivo no Brasil em 2021 (+ 5% do PIB) e aumento do consumo do Ciclo Otto já se encostando à demanda da safra 2019/20 (antes do COVID-19);
d) Câmbio acima de R$ 5/US$ e, face a movimentação das eleições de 2022, já antecipadas em termos das campanhas políticas podendo ir mais para R$ 6/US$;
e) Índia antecipando investimentos em etanol e caracterizando a imagem de maior dependência mundial pelo açúcar brasileiro;
f) Forte quebra de açúcares totais recuperados na safra 2021/22, em nível de produtividade talvez visto em 2011, com muitos problemas também.
Não há “grandes jogadas”, normalmente no sonho de muitos, mas a consciência das perdas de volumes de produção e o desejo de que os preços mais altos reduzam essas perdas é, hoje, consenso.
Os produtores de cana, açúcar e etanol, maduros, conhecem isso e sempre tem um olhar desde já voltado às safras vindouras. Assim, tem-se que olhar o 2º semestre de 2021 e as expectativas da difícil herança que receberá a safra 2022/23. Ficam acesos os faróis dos Fundos Especulativos e as expectativas do clima até o final da safra 21/22!
É importante, numa visão de cultura agrícola semi-perene, o olhar para a idade do seu canavial que, na luta por uma produtividade compatível, planeje os esforços de renovação da cultura para 2022/23. Plantios agora, quando possível, permitirão acesso a boas mudas para o plantio da cana de 18 meses em 2022 e canas para colheita no mesmo ano. Trata-se de um exemplo simples de preocupações que no curto prazo ainda estarão sobre a colheita de 2021/22.
As geadas são um tipo de “presta – atenção” e vale refletir:
a) Safra 2021/22 (abril/março)
O maior efeito seria nesta safra, pois vale ressaltar:
Será fundamental esse acompanhamento, pois no Centro-Sul as diferenças foram importantes: parte do Paraná e Mato Grosso do Sul sentirão mais; a região do Oeste de São Paulo sentirá mais, assim como Rio Preto e Catanduva; Ribeirão Preto e regiões de Minas Gerais também sentirão perdas relevantes.
b) Safra 2022/23 (abril/março)
Dois aspectos a salientar:
A questão das ações técnicas e de uso de insumos modernos para recuperar a biomassa ocuparão o tempo dos agrônomos de campo e dos gestores do Caixa!
Há questões que caminharão no “fio da navalha”: o crescimento da demanda do chamado Ciclo Otto (consumo de combustíveis como a gasolina e o hidratado) levando a uma pressão sobre estoques apertados e a dificuldade de muitos em entregar o açúcar compromissado nas exportações. Momento de grande complexidade, pois os preços seguirão muito bons ao produtor.
Em grandes números, haverá uma quebra média de produção de canas em torno de 15% e a qualidade das canas entregues cairá em relação à safra 2020/21 em torno de 4%! Vamos conferir!
Síntese do Momento (meados de agosto/21):
[1] Tema desenvolvido - cisnes negros, acaso e impactos difíceis – por Nassim N. Taleb em seu livro “The Black Swan”.