Safra 2023/24:
emoções do começo ao fim
Luiz Carlos Corrêa Carvalho
Nilceu Piffer Cardozo
Luiz Carlos Corrêa Carvalho
Nilceu Piffer Cardozo
A Safra 2023/24 tem sido, até o momento, a melhor dos últimos 10 anos no Centro-Sul brasileiro. Afinal, após um período de muitas tempestades, choro e ranger de dentes, é chegada a bonança: alta produtividade, redução dos custos de investimentos e preço, pelo menos do açúcar, nas alturas. Trata-se de um momento único e que tem de ser aproveitado pelo setor. Afinal, assim como não há tempestade eterna, também não há bonança que nunca termine. E em uma safra de resultados agrícolas generalizadamente positivos, com alta produtividade por todos os lados, chama a atenção a necessidade de melhor aproveitar a conversão de energia naquilo que é mais importante para a indústria: a sacarose. A qualidade da matéria-prima é essencial para que o processo industrial ocorra de maneira ótima, com a melhor conversão do que entra na unidade nos produtos desejados, de tal forma que nem sempre a cana mais “pesada” é a que gera os melhores resultados na última linha. Uma matéria-prima de qualidade é o que vale!
Na Safra 2023/24, os valores de ATR (métrica universalmente utilizada, apesar de seu viés monetário) vinham, até o início de setembro, em posição intermediária quando comparados às últimas cinco safras. Trata-se de um valor considerável, afinal as condições climáticas em 2023/24 foram as melhores dos últimos anos tanto no verão como no outono e, pelo que é falado, tende a sê-lo também na primavera que começou há pouco. Todavia, além de canaviais mais hidratados, dois fatores têm limitado a obtenção de maiores valores de ATR e podem ser decisivos para o resultado da safra. O primeiro diz respeito ao maior volume de cana, muito acima do esperado, que tende a “empurrar a safra” para os meses mais chuvosos de novembro e dezembro (e possivelmente fevereiro e março/24), quando os valores de ATR tendem a ser naturalmente menores pela ocorrência de chuvas. Além desse atraso “natural”, outra fonte de retardo da moagem diz respeito à velocidade com que esse processo ocorre. Apesar da moagem em julho/23 ter batido recorde histórico no Centro-Sul, isso não foi observado em agosto e setembro/23, meses com os maiores valores de ATR e moagem no histórico. Essa condição contraditória só pode estar relacionada às limitações industriais no recebimento de matéria-prima para a fabricação de açúcar. Com a melhor qualidade natural e a necessidade da maior conversão possível em açúcar (devido aos preços), a entrega diária foi reduzida, pois a fábrica está em seu limite.
Essa condição tende a “empurrar os canaviais” à frente e às condições que reduzirão sua qualidade. Afinal, os canaviais estão naturalmente mais hidratados e, com o retorno das chuvas e as altas temperaturas (típicas de anos de El Niño), torna-se praticamente impossível que não haja inversão da sacarose e retomada de desenvolvimento dos canaviais. Por isso, é essencial que os canaviais recebam uma “ajuda” para que a redução da qualidade da matéria-prima ocorra o mais lentamente possível, pois ela indubitavelmente ocorrerá. Nesse sentido, o uso de maturadores é essencial, visando reter a tendência natural de retomada do crescimento e controlar a queda dos valores de ATR. É lógico que existem canaviais, florescidos, isoporizados ou em condições depauperadas, que podem não apresentar condições para a aplicação. Contudo, há muitas áreas a serem colhidas que têm condições para a aplicação e essa tem de ser realizada para que a qualidade média desejada na safra seja obtida. Não há motivo para duvidar ou temer quanto ao uso de maturadores nesse momento, pois o potencial de produção está dado e não será alterado significativamente. Caso não seja devidamente estimulada, a qualidade apresentará perdas rápidas e intensas, que afetarão a conversão em açúcar em uma safra tão açucareira.
O momento de utilização está se esgotando, pois, uma vez iniciado o processo de inversão da sacarose, ele dificilmente será contido. Por isso, sugere-se a seleção de áreas viáveis e a aplicação rápida de maturados, que são o insumo mais estratégico e decisivo nessas condições. O controle de pragas e doenças também será importante, porém pensando-se nos canaviais da próxima safra ou que serão bisados.
A chegada de uma primavera chuvosa alegra os que plantam e assusta os que colhem. Sempre foi assim! Tempo “fechado” aqui e ensolarado na Ásia (seca) combinam com preços altos do açúcar. E é ele que remunera um melhor valor do quilograma do ATR ao agricultor canavieiro.
Esse é o momento de garantir os resultados de 2023/24 e o início da próxima Safra 2024/25, que terá a difícil tarefa de ser pelo menos similar à anterior.