O mundo com a pandemia do Covid-19, para todos, tem sido uma constante interrogação existencial: todos buscando uma solução, muitos negando-a, muitos achando culpados e, alguns, muito distantes. O despertar ao novo mundo tem sido penoso e muitas vezes conflitante. Afinal, depois da gripe espanhola não houve nada assim! Mais que isso, a arrogância do homem e sua tecnologia não admitiam tal possibilidade. Várias são as consequências da pandemia, sendo uma delas a de fazer cair a ficha de valores! O velho discurso de commodities versus valor agregado é claro exemplo!
No Brasil, sob o olhar “muito” interessado dos países, o Agro é a unânime conclusão dos brasileiros como sendo de fato a base da sustentação do país. Nesses tempos bicudos, empregos, balança comercial e crescimento, são fatos que confirmam a qualidade desse setor brasileiro, cria do encontro da ciência e da competência do Brasil! Não foi o acaso, mas é o caso de competência, coragem e esperança exercidas nos vários elos que compõem as cadeias produtivas do Agro brasileiro.
O mundo do açúcar e do etanol vive globalmente um forte processo de protecionismo e conservadorismo que não mais cabe nos dias de hoje. Assim, vários países iniciaram o caminho da mudança, muito baseada na realidade sucroenergética brasileira.
Com muita disposição privada e com suporte público, via OMC - Organização Mundial do Comércio – o setor canavieiro enfrentou formalmente a União Europeia, a Tailândia e, agora, a Índia. Um longo processo para a abertura das barreiras comerciais, acabará revelando aos países que o caminho do mercado aberto, agora suportado pela lógica da luta comum contra o aquecimento global e a poluição, é o mais eficaz e de melhores resultados ao mundo.
O açúcar, hoje com consumo per capita médio crescendo em níveis abaixo dos resultados da década passada guarda relação direta de preços com o petróleo, via etanol e gasolina e pesa como um produto onde o Brasil tem um “share” de 50% do mercado internacional! O produto brasileiro é cada vez mais essencial a um balanço de oferta e demanda mundial mais equilibrado. A atual fase de preços altos das commodities deve durar mais 2 anos pelo menos e tem um sabor ainda maior ao produtor/exportador brasileiro de açúcar, face a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar norte-americano. Os elevados preços do petróleo trouxeram agora os preços do etanol ao nível do açúcar, gerando uma expectativa muito positiva à renda do produtor para a safra 2021/22, após os excelentes resultados da safra 2020/21.
Gráfico 1: Paridade do Etanol Spot vs Açúcar NY nº 11. Fonte: LMC International.
A seca de 2020 e o fraco verão de 2021 trouxeram ainda mais pressão de alta aos preços setoriais apesar da elevação dos custos e da quebra de produtividade. As margens ao produtor serão muito boas!
A safra atual se inicia com alta quebra em relação à safra 2020/21 (mais ou menos 10 toneladas por hectare) e todos os produtores se assustam com o que virá no terceiro terço da safra. Os olhos se voltam ao manejo da colheita, às oportunidades de plantio e ao manejo das políticas públicas. Afinal, pelo lado do produtor há o desejo de investir, com regras de jogo estáveis! Pelo lado internacional, quanto mais clara vai se cristalizando a quebra da safra brasileira, mais se realça a dependência do açúcar brasileiro.
Falando em políticas públicas, sejam globais ou de cada país, vale realçar a importante posição da OMC induzindo a Índia a caminhar no sentido do etanol combustível e descarbonização, além da China e Tailândia. A aplaudida volta dos EUA ao Acordo de Paris foi essencial às ações voltadas às energias renováveis no mundo, salientando-se no caso dos países canavieiros a opção etanol. O Acordo de Paris traz muita esperança de ações no campo do aquecimento global.
No Brasil, a implementação positiva do RenovaBio (primeiro ano em 2020) acelerou a aprovação no Conselho Nacional de Energia do programa “Combustível do Futuro”, essencial para o processo de atendimento, pelo Brasil, das suas metas para os anos vindouros junto ao Acordo de Paris. Trata-se agora de se ter corretas ações no manejo das políticas públicas aprovadas e que passam por todos os elos das cadeias produtivas. Esquematicamente pode-se ter melhor noção das oportunidades do Programa:
Figura 1: Esquema Operacional Brasileiro, Combustível do Futuro. Fonte: Canaplan.
É animador o que se pode esperar para os anos a frente, nos setores de tecnologia, antes da “fazenda”, como os de insumos modernos e máquinas e implementos, nos sistemas de produção agroindustrial reduzindo emissões de carbono, na comercialização dos CBIOs pelas partes obrigadas e nas possibilidades (pensando-se no uso dos CBIOs como formas de financiamento ao uso de tecnologia) dos agentes não obrigados na comercialização desse novo produto setorial, o CBIO!
A lógica da ação do governo deverá estar sintonizada com a lei (RenovaBio) dos combustíveis renováveis e o recém aprovado Programa Combustível do Futuro, que junta todos os outros programas soltos no país! Para isso é fundamental entender os desafios e a forma das Agências Públicas como a ANP, ANA, ANEEL, entre outras, atuarem em entrosamento com o setor privado, de tal forma que as ações sejam debatidas antes de qualquer medida que possa desestimular o capital a ser investido no setor.
A síntese do RenovaBio é a de estimular a competitividade via produtividade e menores emissões de CO2, permitindo visão decenal de metas; a do Combustível do Futuro: “Objetivo de propor medidas para incrementar a utilização de combustíveis sustentáveis e de baixa intensidade de carbono, bem como da tecnologia veicular nacional com vistas à descarbonização da matriz energética de transporte nacional”. Integrar o RenovaBio, o Proconve, o Rota 2030, o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular e o Conpet (gás natural e petróleo) é medida essencial para compor ações na mesma direção.
O Brasil segue no sentido de ser protagonista nas ações ambientais! O setor público deverá seguir estimulando a competitividade em ambiente sustentável.