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A sombra da última safra nas regiões centro-sul e nordeste

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                 “Há criaturas como a cana: mesmo postas na

           moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço,

                                                       só sabem dar doçura.”

                                                        Dom Hélder Câmara

No Brasil a safra canavieira 2021/22 não foi luminosa. Enquanto no Centro-Sul, espera-se uma oferta de no máximo 525 milhões de toneladas de cana, soma-se as 56 milhões de toneladas do Norte-Nordeste e se espera uma safra brasileira 21/22 com moagem de cerca de 578 milhões de toneladas de canas. No Centro-Sul a qualidade das canas ajudou, e, no Nordeste, caiu em relação à 2020/21, de 132 kg/ton de ATR para algo em torno de 124 kg/ton.

No Nordeste, chuvas irregulares e muito imprevisíveis marcaram o ano de 2021, com discrepâncias de volumes-chuvas por ano, num intervalo de 900 mm até mais de 2200 mm em regiões localizadas com distancias curtas de até 50 a 60 km, com canas mais pesadas, porém com menores níveis de sacarose, além de impurezas. Para ambas as regiões os custos de produção subiram de forma efetiva e os preços dos produtos, felizmente, também.

Por um lado, a produtividade menor encareceu os produtos e, pelo outro, a crise da logística global agregou custos adicionais nos insumos em geral.  Agora, a guerra Rússia – Ucrânia e a dificuldade de acesso aos fertilizantes mostram elevações alucinantes em seus preços!

Talvez no Centro-Sul tenhamos um atraso no início da safra 22/23 com um aumento na oferta de canas sobre a 2021/22 de até 5%, enquanto para o Nordeste, Renato Cunha (Novabio) fala em aumento de 3 a 5%. Claro que ainda é cedo para previsões, mas a experiência permite esses ensaios. Enquanto no Centro-sul as canas estão muito “atrasadas”, no Nordeste deve-se ter o começo da nova safra, notadamente em boa parte dos seus Estados, iniciando ao redor do mês de agosto/22.

 

Quais as variáveis fundamentais para a safra em questão no Nordeste?

 

Sem dúvida o clima, onde chuvas regulares seriam uma benção. No Centro-Sul, um início de outono com chuvas complementando o canavial enquanto que para o Nordeste o inverno, quando chegam as chuvas criadoras, também se reza por chuvas nas médias históricas. Parece que o cenário de "La Ninã" continuará até fins de 2022, mas não se sabe ainda se as canas, após o inverno, amadurecerão no tempo ideal de utilização industrial, com adequada extração de açúcar, caso haja melhor distribuição. O destino do mix deve preponderar para o etanol.

Esses dados são de uma riqueza impressionante pois as 578 milhões de toneladas de canas quase já processadas no nosso país na safra 2021/22 podem vir a ser na 2022/23, 606 milhões de toneladas, ou seja, 28 milhões de toneladas de cana adicionais sobre a safra 2021/22. Mesmo assim, muito abaixo das 660 milhões de toneladas de canas, atendendo as capacidades industriais instaladas no Brasil.

Além do clima, investimentos em plantio, novas variedades, insumos modernos adequados e outras ações positivas serão essenciais e percebe-se essas ações pelos produtos do País.

Mas pensar e estimar a safra 2022/23, em uma conjuntura de pandemia e de guerra Rússia-Ucrânia, é claramente difícil. Com o complexo de energias com precificação volátil, onde houve um petróleo que chegou à casa de US$ 150/barril em uma potencial longa disputa bélica, há ociosidade industrial no Brasil, principal país presente no açúcar mundial, que adiciona dificuldades às projeções. Os fundos especulativos como atuarão? Quais as dificuldades da logística para exportação na região da crise?

Qualquer resposta a essas questões passará, sempre pelas expectativas de grande volatilidade nos preços dos produtos setoriais. Como exemplo, os preços do petróleo recuaram para US$ 100/barril com os novos lockdowns na China. Por fim, registramos que números oficiais do Ministério da Agricultura e Pecuária-MAPA, retratando a posição de 15/03/22 recente e quase encerrada da safra 21/22, já mostra: esmagamento de canas totais de 576,6 milhões de tons, produção de açúcar de 34,887 milhões de tons métricas e 29,632 bilhões de litros de etanol.