Luiz Carlos Corrêa Carvalho
“A persistência é o melhor caminho do êxito”
Charles Chaplin
A FAO acaba de caracterizar a queda dos estoques de alimentos, hoje em nível menor do que antes da pandemia, mantendo elevados os preços agrícolas no mercado internacional. O que é mais impactante nas informações é que há uma concentração dessas reservas em poucos países: China, EUA, Índia, Europa, Brasil, Argentina e Rússia, detém, juntos, 76% dos estoques.
Quando se trata de produtos como a soja e açúcar, é ainda mais concentrado!
De qualquer forma, a FAO ratifica que as altas significativas dos alimentos em relação à pré-pandemia, foram impulsionadas por fatores como movimentos no mercado de câmbio e energia e à dinâmica de oferta e demanda, que é exatamente o que acontece com o açúcar.
Nesse ambiente, quais as características da safra 2021/22 brasileira e safra global?
1. O mesmo impacto global (câmbio/energia) somente mais positivo ao açúcar e ao etanol graças à maior desvalorização do real do que outras moedas;
2. Redução de oferta (-15%?) no Centro/Sul brasileiro (90% da produção brasileira e cerca de 520 milhões de toneladas de cana) e manutenção do que vem sendo o padrão do Norte/Nordeste (50 a 55 milhões de toneladas de cana). Isso traz grande pressão sobre os preços do açúcar no mercado internacional, face a relevância do Brasil (> 45% desse mercado);
3. Preços do petróleo ao redor de US$ 70/barril, sustentando em nível elevado os preços do etanol;
4. Fundos especuladores fortemente comprados em açúcar;
5. Outra safra global (2020/21) com déficit e a 2021/22, pelo peso do Brasil, de neutra a déficit.
A safra 2021/22 do Norte/Nordeste (posição de 01/09/21) está 2% abaixo da safra 2020/21 mas, tenderá a recuperar isso (talvez moer 54 milhões de toneladas de cana). Em ATR (kg de açúcares totais recuperados por tonelada de cana processada), mostra-se 8% maior! O mix para etanol segue muito forte (84%) nesse início de safra.
A safra 2021/22 do Centro/Sul segue mostrando os impactos negativos da longa seca e das geadas sucessivas entre julho e agosto de 2021: uma safra final com cerca de 520 milhões de toneladas moídas, contra 605 milhões de toneladas da safra 2020/21 – é como se a Tailândia não tivesse moído cana este ano!!
É importante salientar pequena redução da área a ser colhida em ambas as regiões!
Nesta safra 2021/22, os cerca de 3,2 – 3,3 bilhões de litros de etanol de milho na região Centro/Oeste ajudarão demais!
Para o Centro/Sul, o negócio agora é “bater o paletó” com a poeira da safra 2021/22 e planejar-se para recuperar o seu canavial para a safra 2022/23: nutrir, proteger e adicionar ações para maior biomassa, aumentar o plantio de forma consistente mesmo com as dificuldades de ter mudas de qualidade para isso.
Na visão global do mercado, após as complexas negociações na OPEP+ o petróleo Brent deve seguir no padrão de volatilidade entre 67 – 75 US$/barril, o que é positivo ao etanol e ao açúcar. A Índia precisa de US$ 19 c/lb como preço de açúcar e o mundo vai precisar do açúcar indiano; os preços equivalentes do etanol (mercado Spot) estarão em cerca de US$ 18,5 – 18,7 c/lb o que se dá uma perspectiva de preços da cana, no Brasil, com açúcar de R$ 140,00/saco e etanol de R$ 4,00/litro (com impostos), de R$ 1,10 – 1,15/kg de ATR! É recorde e acompanhado de um bom rendimento final em ATR (140 – 141 kg/tonelada de cana).
Enfim, safra pequena e preços bons, com impactos difíceis para 2022. É tempo de investir nos canaviais! Quando acordarmos já estaremos reclamando novamente...