14/07/2022

Água & Agro: Boas Práticas Agrícolas no uso dos recursos

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O cenário ideal para uma lavoura seria que chovesse a quantidade exata, no período exato, umedecendo, exatamente, a área de terra onde a plantação está se desenvolvendo. Isso não acontece e nunca acontecerá, afinal estamos falando de fatores climáticos inerentes às vontades humanas. Para lidar com o inconstante cenário de chuva, foi preciso criar tecnologias para levar a água até onde ela não chega, no momento adequado.

 

Ao longo dos anos, a utilização da água nas propriedades rurais foi evoluindo e atualmente, estão disponíveis soluções que visam a economia do recurso hídrico sem deixar de atender as demandas das produções. Para lugares de seca ou de chuvas esparsas é a irrigação que potencializa o cultivo.

Irrigação: cultivando em meio aos desafios hídricos

Para suprir a deficiência de água, a irrigação usa tecnologias e equipamentos que fornecem a quantidade necessária de água no solo, de acordo com a cultura que está sendo cultivada. Essa distribuição não acontece ao acaso, não se trata de molhar a terra apenas, ela é planejada para atingir uma área específica, no momento correto, usando a quantidade ideal de água. Essa combinação de fatores faz com que os recursos hídricos não sejam desperdiçados, que o solo não fique encharcado e que as plantas possam crescer saudáveis, tendo disponíveis os nutrientes necessários.

 

O principal motivo para pôr a irrigação em prática é a falta de água em lugares onde cultivar sem esse recurso seria inviável. Cada cultura necessita de uma quantidade diferente de água, que varia de acordo com as fases do desenvolvimento, as condições do solo e com o clima local. Dependendo do tamanho da propriedade, irrigar pode demandar altos investimentos, mas os benefícios são evidentes.

Sobre a irrigação é importante entender que não se trata de um único método, existem vários sistemas que proporcionam diferentes formas de ação. Para saber qual é o melhor, o agricultor precisa conhecer as vantagens e as limitações de cada um e investir no sistema que melhor atende às necessidades da sua cultura, da sua região e, também, do seu sistema financeiro.

Cada sistema de irrigação, ou seja, cada ferramenta/instalação dos instrumentos, coloca em prática um método. Uma determinada cultura pode se enquadrar em dois ou mais métodos diferentes, assim como, um método pode ser útil para irrigar diferentes culturas.

Vantagens e Limitações dos Principais Métodos de Irrigação:

• IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO: jatos de água são lançados e caem sobre a cultura em forma de chuva.

Vantagens:
- Facilidade de adaptação às diversas condições de solo e topografia;
- Apresenta potencialmente maior eficiência de distribuição de água, quando comparado com o método de superfície;
- Pode ser totalmente automatizado;
- Pode ser transportado para outras áreas;
- As tubulações podem ser desmontadas e removidas da área, o que facilita o tráfego de máquinas.

Limitações:
- Os custos de instalação e operação são mais elevados que os do método por superfície;
- Pode sofrer influência das condições climáticas, como vento e umidade relativa;
- A irrigação com água salina, ou sujeita a precipitação de sedimentos, pode reduzir a vida útil do equipamento e causar danos a algumas culturas;

- Pode favorecer a disseminação de doenças, em alguns culturas, cujo veículo é a água.

 

• IRRIGAÇÃO LOCALIZADA: a água é aplicada pontualmente na planta.

Vantagens:
- Economia de mão-de-obra;
- Distribuição mais uniforme da água;
- Possibilidade de aplicação de fertilizantes (fertirrigação);
- Baixa perda por percolação, evaporação e deriva;
- Economia de água e energia;
- Elevada eficiência na aplicação de água (85-95%).

Limitações:
- Custo de implantação;
- Exigência de um sistema de filtragem rigoroso;
- Susceptibilidade de entupimento;
- Necessidade de um manejo rigoroso em áreas com solo salino;
- Pode limitar o crescimento do sistema radicular se mal manejado.

IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE: a água é aplicada diretamente no solo que o absorve.

Vantagens:
- Menor custo fixo e operacional;
- Requer equipamentos simples;
- Não sofre efeito de vento;
- Menor consumo de energia quando comparado com aspersão;
- Não interfere nos tratos culturais;
- Permite a utilização de água com sólidos em suspensão.

Limitações:
- Dependência de condições topográficas;
- Requer sistematização do terreno;
- O dimensionamento envolve ensaios de campo;
- Requer frequentes avaliações de campo para assegurar bom desempenho;
- Se mal planejado e mal manejado, pode apresentar baixa eficiência de distribuição de água;
- Desperta pequeno interesse comercial, em função de utilizar poucos equipamentos.

• IRRIGAÇÃO SUBTERRÂNEA: aplicação da água diretamente no sistema radicular das plantas ou abaixo dele.

Vantagens:
- Apresenta alta eficiência e uniformidade;
- Economia de água, pois evita a evaporação;

- Facilita o tráfego de máquinas.

Limitações:
- Alto custo de instalação;
- Susceptibilidade de entupimento;
- Exigência de um sistema de filtragem rigoroso;
- Dificuldade de detecção de entupimentos.

Vários fatores devem ser levados em conta na hora de escolher um sistema de irrigação para ser implementado em determinada lavoura, como: os declives na área, a taxa de infiltração do solo, a sensibilidade da cultura ao molhamento e as condições climáticas, principalmente o vento. Antes de qualquer decisão, a irrigação exige o estudo do caso para que haja eficiência, economia e sustentabilidade do recurso hídrico, afinal, tratar de irrigação é falar sobre a água.

 

O uso eficiente da água.

A irrigação carece de fontes de água e essa fonte, além de ser legalizada, precisa estar estrategicamente bem posicionada para que o transporte da água não seja um limitador. A irrigação visa o retorno econômico da lavoura, porém esse fator não pode ser o único a ser considerado, mas, também, a sustentabilidade ambiental da área e seu entorno. Assim, um sistema de irrigação deve evitar impactos negativos no meio ambiente, como erosão, degradação da qualidade da água e destruição de habitats naturais. Tais efeitos negativos podem ser considerados na análise econômica, na forma de multas ou complicações relacionadas aos incentivos governamentais.

A produção agrícola depende da disponibilidade da água, e em volumes superiores à maioria das outras atividades humanas, tanto na agricultura de sequeiro e, com ênfase maior, na agricultura irrigada. É essa demanda de consumo elevado, combinada com o crescente cenário de escassez que determinam a exigência de uma atenção para o uso mais eficiente da água.

Entre outros, os órgãos de pesquisa têm uma responsabilidade especial no desenvolvimento e na disponibilização de informações técnicas e de práticas adequadas para preservar a água nos cultivos irrigados, sem prejudicar a capacidade produtiva das lavouras.

Cada cultura requer uma quantidade diferente de água e isso também vale para o tamanho da propriedade e a região em que ela está localizada. Além de variar entre as culturas, a quantidade de água também é diferente entre as fases do desenvolvimento das plantas.

As tecnologias disponíveis atualmente se tornam aliadas dos produtores que precisam usar a água em prol do desenvolvimento da lavoura. Nem sempre a irrigação será a melhor solução, por isso que o estudo de cada caso é o primeiro passo para gerar economia dos recursos hídricos e financeiros. Vale ressaltar que os fatores climáticos e o solo podem ditar algumas regras para quem deseja usar a água de forma eficiente e consciente.

O clima e o solo à favor da água e dos resultados.

É a falta de chuva que faz o produtor investir em irrigação. Em lugares do Brasil em que as chuvas estão mais presentes, a irrigação pode ser um complemento sazonal, nesse caso, o agricultor precisa ponderar se vale ou não realizar os investimentos.

Conhecer as condições climáticas da região ao longo do ano auxilia na tomada de decisões, até mesmo selecionando determinadas culturas em cada estação do ano. O Brasil é um país com vasta extensão territorial, o que permite uma ampla variedade de climas. Esse cenário é positivo para uma multiplicidade cultural, mas é preciso que se entenda qual cultivo é propício para tal região em determinada época do ano. O Nordeste, por exemplo, apresenta clima semiárido, com escassez de chuvas em boa parte do ano, isso faz com que a irrigação seja mais relevante para as produções. Historicamente, temos chuvas mais volumosas no início do ano na parte Norte do Brasil, enquanto, no mesmo período, o Sul costuma sofrer com as secas.

A radiação solar, as temperaturas, a umidade relativa do ar, as precipitações de chuvas e a velocidade do vento são os principais fatores climáticos que influenciam no uso e na quantidade de água. Dependendo da configuração dessas variáveis é que o consumo hídrico vai ser maior ou menor.

Quando o assunto é água, devemos olhar para o solo também. As características físicas e químicas da terra e a declividade da área influenciam no manejo da irrigação. Por exemplo, a textura do solo vai determinar a quantidade de água e os intervalos de aplicação dessa água no local. Um solo arenoso vai precisar de um nível de irrigação diferente quando comparado a um solo argiloso. Mais uma vez, o estudo da propriedade deve ser feito na hora de escolher um sistema de irrigação.

O futuro da irrigação

A água é essencial na produção de alimentos e com as oscilações climáticas, a irrigação é a ferramenta disponível para manter a produtividade e, consequentemente, a segurança alimentar mundial. Desde as primeiras técnicas de irrigação até o presente, muitas evoluções aconteceram e grande parte delas são pensadas para que a eficiência produtiva seja mantida e conciliada com a sustentabilidade ambiental. Acredita-se que as inovações na irrigação continuarão acontecendo.

Com a internet interligando a propriedade do começo ao fim, espera-se que o produtor consiga gerenciar de forma ainda mais inteligente a irrigação a partir de dados coletados sobre o solo, o clima e as condições de cultivo. Drones, imagens de satélite e o constante monitoramento da lavoura também podem ajudar no uso eficiente da água.

Controlando os sistemas, como os pivôs, sem a necessidade de ir até o local, coletando dados, gerando relatórios de desempenho e detectando vazamentos nas tubulações, o sistema de telemetria é outra tecnologia que ajuda a monitorar a irrigação da propriedade.

A agricultura digital no agronegócio significa mais eficiência, rapidez e comprometimentos com as melhores decisões para que se mantenha os bons resultados e a sustentabilidade, uma vez que não há um caminho alternativo para lidar com o estresse hídrico se não com o auxílio da irrigação. Então, o que precisa ser feito é o uso inteligente da água, levando em consideração que cada propriedade merece um estudo isolado do solo, do clima e dos requisitos das culturas para implementar o melhor sistema de irrigação.

Referências:

https://portal1.snirh.gov.br/ana/apps/storymaps/stories/a874e62f27544c6a986da1702a911c6b

https://agroinsight.com.br/metodos-de-irrigacao/

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/27342/1/Irrigacao-Metodos.pdf