Mancha de Bipolaris no Milho: sintomas, identificação, impacto econômico e manejo.

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Popularmente conhecida como Mancha-de-bipolaris-do-milho a doença é causada pelo fungo Bipolaris spp. Foram encontradas diferentes espécies do fungo predominando nas lavouras brasileiras. das quais se destacam Bipolaris maydis e Bipolaris zeicola.

As condições ideais para a infecção do fungo no milho incluem a presença de água livre na superfície das folhas, temperatura e umidade elevada, presença do patógeno e hospedeiros susceptíveis, sob essas condições, a germinação dos esporos e a penetração nos tecidos foliares podem ocorrer em até seis horas.

Estratégias efetivas de manejo da doença visam a contenção do inóculo primário pela inviabilização ou erradicação do mesmo. A doença é policíclica e tem elevado potencial de disseminação.

A possibilidade de cultivar milho em diferentes épocas no Brasil aumenta a incidência de doenças no campo, devido à presença constante de fontes de inóculos que sobrevivem nos resíduos culturais infectados após a colheita. 

Registros no Brasil

A Mancha-de-bipolaris é uma doença grave em regiões de clima tropical, quentes e úmidos, com perdas que podem superar a 70%. No Brasil, os primeiros registros de epidemias são nas principais regiões produtoras de milho safrinha (Centro e Norte).

Trabalhos de monitoramento de doenças, detectaram elevada severidade da Mancha-de-bipolaris em alguns estados brasileiros em latitudes altas (Sul e Sudeste), inclusive nos cultivos de verão. 

Sintomas de Mancha-de-bipolaris-do-milho observados em Chapecó/SC. Foto: Daian S. Rozzetto.

Ocorrência que têm chamado a atenção e demandam pesquisas para identificar a raça ou raças prevalecentes, bem como as condições que têm propiciado o aumento na severidade dessa doença nessas regiões.

A B. maydis apresenta três principais raças: T, O e a C, esta de maior prevalência. A B. zeicola possui as raças numeradas de 1 a 5, sendo a 1 e 3 as principais.

Cenário atual da doença

A crescente suscetibilidade de híbridos de milho ao fungo Bipolaris spp., aliada ao cultivo em diferentes épocas e locais em condições ambientais que favorecem o desenvolvimento da doença, exigindo a adoção e reavaliação das estratégias de manejo.

A dependência exclusiva dos fungicidas não é sustentável a longo prazo, especialmente diante da adaptabilidade dos patógenos e da variabilidade climática. É necessário investir no desenvolvimento e na adoção de híbridos com resistência genética. 

Híbridos com diferentes resistência genética a mancha-de-bipolaris. Foto: José Madalóz.

Que oferecem uma defesa genética maior. Além disso, práticas agronômicas, como a rotação de culturas e a escolha cuidadosa das épocas de plantio, devem ser integradas ao manejo para diminuir a pressão do patógeno.

Somente através da combinação entre resistência genética, práticas agronômicas eficientes e uso criterioso de produtos fitossanitários será possível assegurar a sustentabilidade e a produtividade da cultura do milho. 

Infecção, sintomas e ciclo

O fungo é necrotrófico, ou seja, persiste nos restos culturais na forma de micélio e esporos, estes possuem  elevado potencial de contaminar lavouras vizinhas e cultivos sub sequentes quando as condições ambientais forem favoráveis (ciclo primário).  Normalmente, os sintomas iniciais são observados nas folhas próximas ao solo, no “baixeiro”. 

As lesões da Bipolaris nas folhas do “baixeiro” da planta de milho. Foto: Fernando Zanatta

A sobrevivência ocorre em restos culturais infectados.

Os sintomas da mancha de bipolares são variáveis, dependendo do genótipo, das raças do fungo que estejam infectando as plantas, portanto as características visuais dos sinais da doença podem ser facilmente confundidas. A coloração passa para púrpuro avermelhada a castanho amarelada e o centro torna-se amarelado a cinza, com margens amareladas. Posteriormente, com a frutificação do fungo, a lesão fica cinza escura ou preta, a folha adquire um aspecto de queima. 

Variação das lesões em função da resposta dos genótipos as diferentes espécies de Bipolaris . Foto: Daian S. Rozzetto. 

O fungo é policíclico, ocorrendo vários ciclos de infecção do patógeno por clico do hospedeiro (milho). Os conídios (estrutura de disseminação do fungo) uma vez depositados na superfície das folhas, germinam. Por via de tubos germinativos penetram diretamente nos tecidos foliares ou explorando aberturas naturais, como os estômatos ou lesões físicas.

Após a penetração dos tubos germinativos, o micélio do fungo invade as células do parênquima, resultando na formação de lesões foliares, ocasionado a formação dos conidióforos.

Estas lesões, por sua vez, produzem novos conídios que têm a capacidade de infectar outras folhas ou plantas saudáveis, sendo disseminadas pelo vento e respingos de gotas de chuva carregados com solo e material contaminado. O patógeno realiza diversos ciclos secundários (policíclico) com elevado potencial de disseminação e contaminação.

 

Ciclo do fungo Bipolaris spp, Fonte: Life cycle Pioneer USA, Adaptado por José Madaloz. 

Danos e produtividade

Estudos mais recentes e observações de campo apontam que Bipolaris pode ocasionar perdas superiores a 70% na produtividade em condições extremas.

Severas infecções de Bipolaris ocasionam redução drástica e precoce da área fotossintética do milho, afetando negativamente no acúmulo e remobilização dos foto-assimilados para os grãos.

Híbrido de milho sensível e com severos danos de Bipolares, evolução da doenças a partir do “baixeiro”. Foto: José Madaloz

Visando conter o avanço da infecção, o metabolismo das plantas é alterado. O estresse ocasionado pelo patógeno gera demanda metabólica, forçando as plantas a gastarem parte de suas reservadas nutricionais no enfrentamento da doença e por consequência reduzindo a produtividade.

A perda prematura das folhas plantas, pode ocasionar o enfraquecimento do colmo, devido a remobilização de reservas e a entrada de patógenos. Por consequência, o tombamento das plantas de milho de forma indireta. 

Bipolaris e outros patógenos

As condições que favorecem a Bipolaris podem favorecer simultaneamente outros patógenos, sendo comum identificar lesões de diversos microrganismos na mesma planta. 

As lesões frequentemente são confundidas com outras doenças  na cultura do milho, a Cercosporiose e a Estria Bacteriana. No entanto, as lesões da cercosporiose são delineadas pelas nervuras das folhas, mais estreitas e têm bordas mais uniformes, enquanto as lesões de Bipolaris são irregulares e com bordas não retilíneas.

Na folha com Estria Bacteriana, se observa halos amarelos longos que se estendem de cada extremidade da lesão quando a folha está contra a luz, o que a difere das lesões de Cercosporiose  e da Bipolaris. 

Folha de milho apresentando lesões de diferentes doenças, Mancha-Branca, Cercosporiose e Bipolares, simultaneamente (a); lesões de Estria bacteriana (b). Fotos: Daian S. Rozzetto e Fernando Zanatta

Em caso de dúvida para correta diagnose recomenda-se a avaliação laboratorial.

Estratégias de Manejo

As estratégias mais efetivas de manejo da doença visam a contenção do inóculo primário pela inviabilização ou erradicação do mesmo, redução da velocidade de multiplicação e disseminação. Pois a doença é policíclica e tem elevado potencial de disseminação e dano, após a infecção

Portanto, um manejo eficaz de Bipolaris deve compreender:

  • Adoção de um programa efetivo de rotação de culturas visando a diminuição da fonte de inóculo.
  • Conhecimento e monitoramento das condições ambientais que favorecem o patógeno a fim de realizar aplicações antecipadas de fungicidas.
  • As aplicações antecipadas (V5/V6) em híbridos de milho susceptíveis tendem a serem eficientes. A perda precoce  do terço inferior das plantas, permite a disseminação livre do patógeno. Essa prática ajuda a reduzir o inóculo inicial do fungo, prevenindo problemas maiores durante a fase reprodutiva.
  • Utilização de híbridos de milho com maior tolerância genética ao patógeno.

  • Uso de fungicidas efetivos no controle do patógeno, associado a correta tecnologia de aplicação e intervalos de aplicação adequados para manter a proteção foliar.
  • Adoção de tratamento de sementes com fungicida a fim de proteger as plântulas.
  • Cultivar sob boas práticas agronômicas em condições nutricionais adequadas  de fertilizações.