Primavera, verão e expectativas canavieiras

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Luiz Carlos Correa Carvalho

Nilceu Piffer Cardozo

 

 

Uma vez que nós aceitamos nossos limites,

vamos além deles.

Albert Einstein

Em plena primavera de flores e chuvas, de um calor intenso em ambiente global tenso, o Centro-Sul brasileiro colhe suas canas e planta os seus grãos. É o desafio do clima, por um lado, a fé inabalável do agricultor, por outro lado, com a volatilidade das políticas em tempos de radicalismos, de guerras e muitas incertezas. Tempos de uma inflação que resiste, do remédio amargo dos juros altos, do receio das rupturas nas cadeias globais de produção, em mudanças de globalização à fragmentação, de queda no volume do comércio livre, de populismo e de protecionismo crescente. Tempos em que a taxa de crescimento dos países está bem aquém das taxas de juros..

É tempo de avançar, conhecendo os limites, ultrapassando-os e marcando novos limites. É tempo de pensar no que faremos se o cenário do clima nos surpreender.

O início de novembro foi marcado por redução generalizada da precipitação e pela ocorrência de “ondas de calor”, com a temperatura do ar em valores poucas vezes vistos. No último decêndio do mês, as chuvas retornaram de maneira muito irregular, com regiões apresentando altos volumes enquanto outras ainda amargam valores muito abaixo do esperado. E essa condição de chuvas de elevada intensidade, entremeadas a períodos com elevadas temperaturas, é a tendência para os próximos meses, ou seja, dezembro, janeiro e fevereiro. Obviamente, são esperadas variações regionais e as regiões mais ao norte devem ser aquelas que sofrerão com a menor ocorrência de chuvas e períodos de estiagem, os chamados veranicos. O grande questionamento do momento está relacionado a como será o mês de março/24, que antecede a safra, e é vital para a dinâmica de crescimento final dos canaviais e seu processamento. Em caso de um março seco, o cenário de 2024/25 pode não ser tão “belo” como tem sido 2023/24. Afinal, já há previsões que indicam a possibilidade de alternância do atual cenário de El Niño para La Niña no inverno de 2024, o que poderia levar a uma alteração drástica no cenário climático. Contudo, no momento o que perdura é o bom humor que somente a melhor safra da vida de muitos poderia trazer.

Afinal, cerca de 636 milhões de toneladas de cana no Centro-Sul, Safra 2023/24, somada ao Nordeste estimado, chega-se a quase 700 milhões de toneladas de cana no Brasil, um recorde! As condições da 2024/25 comentadas dependerão do verão e do outono, em 2024. Vamos torcer!

Por muitos anos, esperava-se a recuperação da produtividade da cana, que veio na Safra 2023/24, de forma impressionante! O produtor de cana aprendeu que é preciso investir, sempre! Assim como não se deve pisotear a lavoura na pressa da volta ao campo pós-chuvas, antecipar os problemas potenciais será fundamental. Caso nada novo surja, na volatilidade do clima, é preciso estar preparado para isso: do lado da lavoura, olho nas oportunidades de plantio e nos agentes de redução de produtividade; do lado do mercado, a possibilidade de bons preços do açúcar e decisões comerciais a tomar; no curto prazo, a cana-bis, que haverá em volumes razoáveis para muitos grandes grupos ou mesmo unidades industriais maiores ou menores. E, diante das incertezas climáticas, é vital que o produtor esteja preparado para aproveitar as oportunidades que possam aparecer e controlar efetivamente os fatores redutores de produção. Em um cenário de oscilação hídrica, muitos produtores retardam o início do controle de pragas como broca e cigarrinha pelos mais variados motivos, sendo o mais frequente deles a aparente ausência de tais pragas. Contudo, ao longo da história do setor, esse cenário é bem conhecido e, infelizmente, costuma ser seguido por uma repentina explosão nas populações de tais pragas de forma mais tardia, o que só vem a dificultar ainda mais o seu controle. Por isso, é fundamental que o produtor não confunda a aparente ausência da praga com o seu desejo desse evento, sob pena de sofrer as consequências justamente em um ano em que a produção pode ser penalizada por fatores ambientais. O mesmo deve ser mencionado quanto à ocorrência de doenças foliares, de origem fúngica ou bacteriana, as quais poderão comprometer a sanidade do “painel solar” das plantas em um momento de definição da produtividade.

O verão se aproxima e esse é o momento de garantir o investimento que foi realizado até então. Manter íntegra a estrutura das plantas, com a plena sanidade de seus tecidos, é fundamental não apenas para as áreas comerciais, mas também para aquelas que serão utilizadas como viveiros para os plantios que já ocorrem e irão se intensificar a partir de janeiro/fevereiro. O final de 2023 e 2024 tende a ser movimentado, com operações de colheita e plantio ocorrendo simultaneamente em várias unidades. Afinal, a safra deve acabar mais tarde em 2023 e começar mais cedo em 2024, e há muito para acontecer. Estratégia será fundamental e um início precipitado e acelerado pode resultar em prejuízos à Safra 2024/25 que já carrega, por si só, o peso de ser a sucessora da melhor safra desde 2009/10. O mercado estará convidativo e as incertezas macroeconômicas assustarão. Ao produtor de cana, investir é a única solução, pois somente assim é possível produzir com eficiência e qualidade.